E&E 97

     

Enonomia e Energia – E&E Nº 97, outubro a dezembro de  2017
ISSN 1518-2932

Palavras do Editor:

A Face Oculta da Dívida Externa e a Pretensa Extinção das Armas Nucleares

Este número trata de duas utopias: extinguir as armas nucleares no Mundo e zerar a dívida externa brasileira.

Todos sabemos do mérito de formular e buscar utopias como estímulo para alcançar um estágio superior de desenvolvimento humano. Mesmo quando não concretizadas, elas ajudam a encontrar a direção a seguir.

A extinção das armas nucleares parece uma utopia cada vez mais longínqua e, ao mesmo tempo, mais necessária. Desde a crise de mísseis de Cuba em 1962, a “distopia” de uma guerra nuclear nunca esteve tão próxima de se tornar uma assustadora realidade.

Se a crise de 1962 acabou resultando em mecanismos preventivos de consulta entre as potências e nos tratados de Tlatelolco (1967) e de Não Proliferação (1968) que ajudaram a manter até hoje uma paz nuclear precária, é permitido sonhar que a atual crise resulte em progressos como, quem sabe, possa vir a significar, o Tratado de Proibição de Armas Nucleares aprovado pela Assembleia Geral da ONU em 07/07/17. O Brasil assinou o Tratado em 20 de setembro próximo passado, juntamente com mais 52 países.

Embora aprovado pela maioria dos votos na ONU, a parte de maior peso da Organização não aprovou o Tratado. Isto inclui os membros do G-5, todos os países que possuem ou compartilham armas nucleares ou sistemas de defesa contra elas. De uma maneira simplificada, os países pobres e desarmados comprometeram-se a continuar desarmados e os ricos e armados não assumiram nenhum compromisso.

Já a utopia do Brasil zerar a dívida Externa Líquida, os dados históricos mostram que ela esteve próxima de ser alcançada por volta de 2006. No entanto, o que poderia ser chamado “paradoxal liberalismo financeiro de oportunidade”, propiciou que “investimentos de risco” afluíssem ao Brasil em uma época de juros reais altos aqui e zero ou negativos em um mercado internacional em crise.

Esse movimento, muito louvado na época como sinal de confiança na economia brasileira, criou um lado oculto da dívida externa que os ajustes na Metodologia do FMI de apuração do Balanço de Pagamentos revelam, só agora, a extensão.

Como resultado, a dívida externa bruta, incluídos os acréscimos do FMI, e assim informada às autoridades monetárias internacionais, é mais do dobro da divulgada internamente no Informe para a Imprensa pelo BC. A primeira é de 680 e a segunda 320 bilhões de dólares. A dívida externa líquida ainda é de US$ 300 bi (16 meses de exportação). Todas as informações estão na planilha do BC, anexa a cada informe mensal.

Isso tornou a utopia de zerar a dívida externa líquida mais longínqua e nos leva a refletir sobre o alcance das mudanças silenciosas em curso nas Contas Nacionais e no Balanço de Pagamentos, abordadas em nosso número anterior.

Carlos Feu Alvim


Conteúdo:

Palavras do Editor (Acima)

O Tratado de Proibição de Armas Nucleares

A Dívida Externa Reapareceu?


E&E 97 em Português

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